O deputado estadual do Rio Grande do Sul Ruy Irigaray (PSL) é suspeito de utilizar funcionários do gabinete, em horário de expediente, para realizar atividades que não estão vinculadas ao trabalho como assessor. Entre elas, reformar a casa da sogra, localizada de frente para o Rio Guaíba, na Zona Sul de Porto Alegre, e cuidar as filhas do casal.
As declarações ao Ministério Público do Rio Grande do Sul foram feitas por Cristina Nebas, ex-servidora, e uma assessora, que não quis se identificar. O caso, que está em sigilo, será apurado pelo promotor de Justiça Flávio Duarte. Na terça-feira (9), as duas prestaram depoimento.
Uma série de vídeos, fotos e mensagens de WhatsApp mostram, ainda, que uma das mulheres trabalhou como babá e até empregada doméstica da família do parlamentar, enquanto deveria estar à serviço do gabinete.
Uma residência de 400m², avaliada em R$ 2 milhões, no Bairro Ipanema, na Capital, tem sido utilizada, desde abril do ano passado, como uma espécie de escritório do deputado. Em vez de trabalhar de suas casas, como orientou o parlamento, os servidores comissionados foram remanejados para o imóvel.
Conforme o relato da ex-assessora Cristina Nebas, a casa chegou a abrigar 15 servidores de Ruy Irigaray, que se dividiam entre realizar as tarefas do gabinete e executar uma série de serviços no imóvel, como troca de piso, reformas de banheiros e pinturas, como mostram os vídeos de celular gravados por Cristina.
Os salários dos servidores pagos com dinheiro público oscilam de R$ 2,7 mil até R$ 9 mil.
“Alguns assessores entraram para fazer exclusivamente a reforma da casa. Ele contrata pessoas pagas por nós, pra fazer esse tipo de trabalho. Enquanto nós deveríamos estar fazendo, todos os assessores, um trabalho para a sociedade gaúcha”, diz Cristina.
Tudo foi filmado e fotografado pela ex-assessora com um celular. A autenticidade dos registros do aparelho, que revelam datas e horário das filmagens, bem como o mapa onde foram realizadas, foi atestada à reportagem pelo especialista em tecnologia Ronaldo Prass.
Cristina diz que ela e outros assessores também tinham que arrumar a casa, executar serviços de limpeza e até limpar as fezes deixadas pelo cão da família, como revelam as imagens.
“Ela chegava 7h30 da manhã e fazia toda a limpeza. Lavava, recolhia o cocô dos cachorros”, contou ao MP a assessora.
Cristina Nebas, que ocupa cargo comissionado na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, por indicação de Ruy, também afirma que cuidava das duas filhas do político, que eram levadas para aula de inglês em Gravataí e partida de beach tênis, em Porto Alegre. Ela também acompanhava as meninas em passeios e idas a lanchonetes, tudo em horário de expediente. Ela recebia as orientações da esposa do deputado, Laura Irigaray, através de mensagens de WhatsApp.
O aplicativo também era utilizado para prestar contas de cada atividade paralela que desempenhava. Pelas fotos e textos, Cristina mantinha o casal informado das rotinas da casa e dos roteiros das filhas. Até a arrumação das roupas no armário era informada.
“Passei mal ontem. Passei o dia em casa dormindo. Aquele tapete persa ali, que tá enrolado, pede pra abrir nesse corredor comprido”, orientou Laura Irigaray, a esposa do deputado, em um áudio.
Em outra mensagem, ela sugere que um assessor, identificado como Pedro, leve o cão da família ao veterinário.
Pedro é um assessor que, na época, era contratado da Assembleia Legislativa do RS com salário de mais de R$ 8 mil e que aparece em várias fotos e vídeos realizando reformas da casa da sogra do parlamentar, em horário de expediente. Procurado pela reportagem, ele negou que tivesse trabalhado na residência.
O advogado José Luiz Blaszak, especialista em direito administrativo, vê nas práticas possível ato de improbidade administrativa e crimes contra a administração pública.
Mensagens trocadas entre Cristina e o casal Irigaray revelam a existência de um “gabinete do ódio” na casa da Avenida Guaíba.
Conforme a ex-assessora, havia mais de 50 telefones celulares – numa foto tirada por ela dá pra identificar 22 aparelhos – que eram utilizados para monitorar grupos de conversas e postar notícias falsas e acusações contra integrantes do próprio partido do deputado, o PSL. Trocas de mensagens entre ela, Ruy e o atual chefe de gabinete, Jean Mortaza, indicam que perfis falsos no Facebook foram criados para essa tarefa.
“O objetivo desses perfis era poder responder e questionar outros deputados sem que afetasse a imagem do deputado Rui Irigaray”, diz Cristina.
Login e senha dos perfis eram repassados a Cristina pelo próprio deputado ou pelo chefe de gabinete, como mostram as mensagens a que a reportagem teve acesso, examinando o celular de Cristina.
O registro de atividades de uma delas, aberta em nome de um homem chamado Adilson, mostra uma postagem com ataque ao deputado federal Bibo Nunes (PSL). Bibo recebeu da própria delatora os prints das mensagens e pediu abertura de investigação ao procurador-geral de Justiça Fabiano Dallazen.
Além das postagens falsas, Cristina também afirma que no gabinete de Ruy Irigaray há um esquema de rachadinhas. Ela disse que não aceitou participar dos repasses, mas que outros colegas se submeteram à prática.
Fonte: G1 RS
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