Trocas de entidade protagonizadas por ACBF e Assoeva retomam discussão sobre as diferenças entre as gestões do esporte no Rio Grande do Sul
Às vésperas de começar, a Série Ouro de 2024 reacendeu um debate que permeia o futsal gaúcho nos últimos anos. Duas das principais equipes da modalidade, ACBF e Assoeva, deixaram a Liga Gaúcha para voltar a disputar o campeonato organizado pela Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS) e que tem a primeira rodada no próximo sábado (13).
A Liga foi criada em 2017 para ser uma entidade independente da FGFS. Além da cobrança por mais transparência, um dos motivos da dissidência foi o desejo dos dirigentes dos clubes de ter maior poder de decisão nos rumos do esporte.
Desde então, dois estaduais masculinos passaram a vigorar no Rio Grande do Sul: a Série Ouro, da Federação, e o Gauchão, da Liga, além de copas, torneios femininos e campeonatos de base. Os times podiam escolher se disputavam as competições de uma entidade ou de ambas, se o grupo e o calendário comportassem.
A nova entidade gestora se manteve firme e, a cada temporada, com mais clubes filiados. Entre 2022 e 2023, veio a mudança de regra que se tornou um dos fatores para a saída de ACBF e Assoeva. Na época, a Liga optou por proibir que um clube disputasse competições de caráter semelhante — como é o caso da Série Ouro e do Gauchão — para evitar a sobreposição de datas e o consequente prolongamento exagerado dos campeonatos.
Em 2024, a perda das duas grifes foi um baque inesperado. A possibilidade de as equipes disputarem as duas competições de forma simultânea chegou a ser posta em votação neste ano, mas somente um entre 15 times votantes posicionou-se de forma favorável à exclusão do artigo que restringe a participação.
O Atlântico, de Erechim, é uma exceção à regra: vai jogar tanto a Série Ouro, quanto a Liga. Para isso, criou um segundo CNPJ, e deu uma volta burocrática, porém dentro da legalidade, na regra. ACBF e Assoeva optaram por não fazer o mesmo.
— A gente ficou dois anos lutando para subir e ficar entre os grandes e, no momento que a gente conquista a vaga, eles não vão estar. Isso dá uma certa tristeza. Entendemos que era melhor ter ACBF nas duas do que não estar na Liga. Todo mundo sabe do apelo da ACBF e do Atlântico. A competição fica fortíssima igual, mas perde um pouco o charme — argumenta Sandro Bertulini, presidente da AAGF, o único a votar favorável à remoção do empecilho regulamentar.
O presidente da Liga, Nelson Bavier, lamenta a decisão dos dois times, mas reforça que a entidade respeita e não entrará em disputa para manter qualquer que seja o clube.
— Falei para as três equipes, inclusive falei para o Atlântico também, que lamentava, porque entendia que a maneira de fortalecer aqui (a Liga) era justamente não retroceder — comenta Bavier, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Ligas de Futsal.
Já o presidente da FGFS, Ivan Rodrigues dos Santos, minimiza a importância da gestão paralela. Para ele, a Liga é uma entidade “amadora” e que é questão de tempo para todos os clubes escolherem, novamente, à FGFS.
— Eu acredito que a Liga, esse ano, vá seguir, mas ela está fadada a, no ano que vem, a sumir — avalia Ivan.
O argumento da direção da ACBF para voltar à Série Ouro é que o campeonato abre portas para competições maiores, como a Taça Brasil, que é organizada com a participação da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS). A diretoria da Assoeva teve motivações semelhantes tomar a decisão.
A Liga não possui ranqueamento para esses torneios tradicionais de nível nacional ou internacional, a exemplo da Libertadores, mas tenta criar suas próprias alternativas. No ano passado, ocorreu a primeira edição do Campeonato Brasileiro de Ligas de Futsal, no qual o Rio Grande do Sul foi representado pelo Lagoa Esporte Clube, de Lagoa Vermelha, após ACBF e Atlântico optarem por não participar.
Ambos os presidentes não acreditam na possibilidade de unificação entre as entidades, pelo menos a curto ou médio prazo. Ivan Rodrigues dos Santos e Nelson Bavier, entretanto, admitem já terem tocado no assunto em encontros do passado. Para o presidente da Liga, a gestão financeira é uma das principais diferenças que impedem a coalisão.
— Existe uma diferença. Uma entidade navega em mar azul e a outra [pausa]. E aí não é nenhuma questão que eu estou falando só da gestão de agora. Isso vem de outras gestões. Então, a gente chega num dado momento que emperra (a discussão sobre unificação) — explica Bavier.
A FGFS tem uma dívida de aproximadamente R$ 5 milhões, admitida por Santos. Segundo ele, o problema teve origem há 28 anos, com um débito tributário que não foi pago e que, ao longo dos anos, se multiplicou pelos juros. O presidente afirma que a Federação já trata do assunto com o Governo do Estado e acredita que a dívida será perdoada. A entidade também está com a conta oficial bloqueada em função de duas ações trabalhistas que ainda não foram pagas.
O discurso, agora, é de uma “nova Federação”. A empresa Gestão 360 foi contratada para revisar contratos e otimizar a administração desta que é a entidade mais antiga do futsal gaúcho, com quase 68 anos de fundação.
— Toda a parte financeira da federação é centralizada pela Gestão 360. Todos os contratos estão sendo refeitos pela Gestão 360, seguindo um padrão. Com isso, a gente quer criar segurança jurídica com os nossos patrocinadores, com os nossos clubes, com os nossos parceiros e prestadores de serviço. Isso a gente já está implementando. Com o passar do tempo, a gente quer criar uma previsibilidade dentro da federação. Queremos que isso passe a não ser mais uma preocupação dos clubes, que quando eles entrem para disputar um campeonato, a única preocupação seja o futsal — garante o advogado Lukas Araújo, da Gestão 360.
Para o responsável pela FGFS, “unificação” não é o termo mais correto a ser usado, já que no seu entendimento não há equiparidade com a Liga. Para Santos, a Federação tem sim, condições de abarcar todos os times que, hoje, disputam as competições da Liga. A princípio, não será aberta uma nova resolução para viabilizar a filiação dos clubes — como ocorreu no início de 2024 — mas a ideia do presidente é que os interessados o procurem.
— Aqui é a casa do futsal. Então, abarcamos tudo. Claro que tem que se estruturar. Tudo tem que ir crescendo. Tudo vai se melhorando. A gente está aqui para isso. Qual é a metodologia que vai se fazer? Se eles quiserem voltar, a gente tem que sentar e conversar — propõe Santos.
Entre-Ijuís e APF, de Gentil, ficaram com as vagas de ACBF e Assoeva na Série A da Liga Gaúcha. Além das equipes de Carlos Barbosa e Venâncio Aires, Russo Preto (Não-Me-Toque) e SER Alvorada (da cidade homônima), que estavam nas séries C e B do Gauchão, respectivamente, migraram para a Série Ouro.
*Fonte: FGFS
*Fonte: LGF
Fonte: GZH
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