A combinação da supersafra nacional de grãos e dos gargalos logísticos – com disputa acirrada por estradas, meios de transporte, portos e estruturas de armazenagem – somada ao declínio das cotações de commodities agrícolas no mercado internacional, vem derrubando os preços do milho aos níveis mais baixos dos últimos três anos, o que deve continuar nos próximos meses, significando margens de rentabilidade melhores para a indústria frigorífica – o milho é o principal ingrediente da formulação de rações animais – e, em uma segunda etapa, carnes mais acessíveis ao consumidor.
A derrocada dos preços do milho no mercado interno acompanha a trajetória do grão na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), onde os contratos futuros do cereal para entrega em dezembro, por exemplo, já eram negociados a 5,17 dólares por bushel na semana passada.
No Rio Grande do Sul, a saca de 60 quilos de milho é cotada atualmente a R$ 58. A pressão baixista, porém, é mais acentuada nos estados que colhem a segunda safra do grão, como Mato Grosso. Na média do estado do Centro-Oeste, o preço da saca está em torno de R$ 34, o equivalente a 2,91 dólares por bushel.
Um dos fatores que explicam a queda é o acentuado recuo dos prêmios de exportação nos portos nacionais. Enquanto produtores norte-americanos e argentinos exportam o cereal a 253 dólares por tonelada, o milho brasileiro é enviado ao exterior a 200 dólares a tonelada, considerando-se as cotações praticadas no Porto de Paranaguá.
Grande parte desse descompasso, porém, é explicada pelo déficit de armazenagem brasileiro. Até o momento, foi escoada apenas metade da produção recorde de soja estimada para o ciclo 2022-2023, de cerca de 313 milhões de toneladas – as exportações da oleaginosa ocorrem de janeiro a junho, enquanto as de milho são mais concentradas no período de junho a outubro, com a entrada da segunda safra do cereal. No caso do milho, se projeta que os embarques deste ano cheguem a 50 milhões de toneladas.
A queda se reflete no preço das rações animais. O custo de produção do quilo de frango vivo no sistema integrado, por exemplo, recuou de R$ 5,62 em maio de 2022 para os atuais R$ 4,90.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, a queda de preços do milho vem trazendo alívio aos produtores do setor, que nos últimos três anos sofreram forte impacto da disparada de custos de produção.
O dirigente observa que o Rio Grande do Sul não atende toda a demanda de milho da avicultura e a última estiagem ocorrida no Estado afetou a oferta do produto. Em março, a Emater/RS-Ascar projetou que a safra 2022/2023 do cereal deve totalizar 3,5 milhões de toneladas – uma redução de mais de 40% em relação à estimativa de colheita inicial. Os gastos com frete, segundo Santos, tornam onerosa a compra da produção de outros estados, como Mato Grosso e Paraná.
O presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, diz que o efeito da trégua nas cotações do milho no custo de produção do setor só deve ser sentido a partir de julho. Isso porque os animais que estão sendo entregues aos frigoríficos atualmente foram produzidos quando as cotações do cereal estavam em torno de R$ 95 a saca.
De acordo com a pesquisa semanal da Acsurs, o preço pago aos produtores pelo quilo do suíno vivo estava em R$ 6,03 no dia 26 de maio, ante valores de R$ 6,60 quatro semanas antes e R$ 5,23 há um ano.
Fonte: Correio do Povo – com informações do analista Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio;
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